sábado, 8 de novembro de 2008

I have a dream (and i still having it)

Essa semana que chega ao seu final hoje, já entrou para a história em diversos campos de atuação.


No domingo, o inglês Lewis Hamilton, que já havia marcado o nome na história da Fórmula 1, durante o ano passado, ao tornar-se o primeiro piloto negro na categoria, agora, com a conquista do campeonato mundial desse ano durante o último final de semana em Interlagos, é também o primeiro negro campeão da categoria.


De quebra, Lewis quebrou o recorde de seu desafeto declarado Fernando Alonso, e agora é o mais jovem campeão da história com 23 anos e 301 dias. Alonso detinha a marca anterior (24 anos e 58 dias) desde 2005.


Se não me engano, o abusado inglês também foi o primeiro piloto da categoria a ser vice-campeão do mundo logo no ano de estréia, vindo diretamente das “categorias de base” da F-1.


Pouco mais de 48 horas depois do feito de Hamilton, outro negro entrava para a história, e dessa vez numa escala bem maior.


O Senador norte-americano Barack Obama foi eleito presidente da maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos.


Nascido em uma família pobre, de origem muçulmana, criado pela avó entre a Indonésia e o Havaí, Obama formou-se advogado na Universidade de Harvard, fez diversos trabalhos sociais, foi líder comunitário, deputado, senador de grande destaque na nova cena política norte-americana e agora chega ao posto de “homem mais poderoso do planeta”.


De fala calma, porém enérgica, e dono de um carisma incomum aos políticos (algo que eu poderia apelidar de “simpatia sincera”), Obama ganha a admiração das pessoas pela franqueza com que fala e se porta diante delas, sem fazer uso recorrente dos clichês políticos habituais.


Seu carisma acabou por torná-lo um fenômeno mundial, o que acabou trazendo para as eleições presidenciais norte-americanas uma expectativa mundial jamais vista antes.


Se é realmente verdadeiro em seu modo de agir ou não, só Deus sabe, mas admito nutrir admiração por ele desde que a repercussão de seu trabalho como Senador e a possível candidatura à Casa Branca despertaram minha curiosidade e acabei conhecendo sua trajetória pessoal e política.


Tanto Hamilton quanto Obama já se mostraram extremamente competentes em suas respectivas áreas e merecedores das vitórias alcançadas neste ano, mas não são tema deste texto por acaso.


Ambos, apesar da competência, tiveram seus feitos supervalorizados em função do principal fator comum à eles: a etnia.


Propositalmente destaquei isso na introdução do texto, para expor um paradoxo que notei nessa epifania toda gerada em torno deles.


Com suas iminentes vitórias, Hamilton e Obama tiveram a imagem associada pela imprensa em diversos momentos na semana que passou. Única e exclusivamente por serem negros, já que atuam em campos completamente distintos.


Hoje, por repetidas vezes, o famoso discurso de Martin Luther King, que inspirou o título deste post, foi citado em reportagens sobre a vitória de Barack Obama.


King, dizia ter o sonho de um mundo onde todos fossem julgados pelo que eram, e não pela cor de sua pele.


Num certo telejornal diziam que o sonho dele estava sendo realizado, mas será realmente?


Que diferença haveria se Hamilton e Obama não fossem afro-descendentes?


Seriam menos competentes e/ou qualificados por causa disso?


Seus respectivos feitos seriam menos importantes e admiráveis se fossem brancos, japoneses, índios pele-vermelha ou sei lá o quê?


Luther King (onde quer que esteja) terá que esperar um pouco mais com seu sonho, hipocrisia e irracionalidade ainda permeiam muitas mentes, pré-conceitos mantém-se fortes, e continuaremos a ser julgados não só pela cor da pele, mas, principalmente, pelo saldo das contas bancárias.


Obviamente a vitória de Obama, principalmente num país sistematicamente racista e preconceituoso como os EUA, é um marco digno de parabéns não somente à ele, como ao povo americano que mostrou-se (ao menos a maioria) arrependido dos oito anos de xenofobia, terrorismo psicológico, entre tantos outros atributos do governo Bush.


Aplausos para ambos, Hamilton e Obama.


Meus parabéns!


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* Texto seria originalmente publicado na quarta-feira, 05/11.

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