quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tirado do Blog do Juca

Assim falou Zaratustra

Por ROBERTO VIEIRA

Nietzche não gostava de futebol. Poucos filósofos gostavam no final do século XIX.

Mas de vez em quando sua lucidez era fria e sábia. Até no futebol.

Seu único encontro com a pelota bretã se deu nos jardins da Família Rothschild em Viena.

Os jardineiros ingleses batiam uma pelada, quando de repente, uma briga transformou os jardins da mansão em praça de guerra.

Tudo por causa de uma bola.

Pouco depois, lembrando o episódio, Nietzche escreveu que 'o amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são'.

Assim é a paixão no homem. Assim é a paixão no futebol.

Pergunte a um são-paulino sobre os distúrbios em campo no domingo.

Depois, pergunte a um palmeirense.

Com certeza, haverá duas respostas diferentes. Ambas cobertas de paixão. Ambas repletas de razão.

Pergunte a um flamenguista sobre as lágrimas dos botafoguenses.

Depois, pergunte a um botafoguense sobre as lágrimas dos próprios botafoguenses.

A mesma lágrima carrega em si dois significados.

Certo, errado. Mão e gás. Verde, tricolor. Ganhar, perder.

A beleza do jogo está na bola que chega na rede e liberta o homem. Transformando o esporte em paixão.

Mas, nunca em uma guerra.

A lágrima de hoje é o gol de amanhã. O adversário de hoje somos nós mesmos nas arquibancadas do dia seguinte.

Ou, como diria Nietzche, Nietzche que não gostava de futebol.

'As convicções são inimigas da verdade bem mais perigosas que a mentira'.


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